terça-feira, 21 de abril de 2015

Revisitando a dor do divórcio

A dor que descrevi no último texto foi a dor antes da assinatura. E já tava no seu processo de dor que ia passando aos poucos. Voltava algumas vezes, principalmente quando falava com minha mãe, que teimava em falar nisso e em casamento e etc.. Mas até que as coisas estavam tendendo a ficar bem.
Até que sou pegue de surpresa por um texto do ex que me machucou forte. Machucou fundo. E eu não sabia que machucaria tanto algo que eu até queria que acontecesse... Explico: no domingo a noite, olho meu email por outro motivo, enquanto esperava minha vizinha.. E aí vejo um email dele. Abro e quando começo a ler, começo a chorar. As lagrimas fugiam ao meu controle e caiam desesperadamente. Doía. Minha cabeça começou a latejar. E aí re-experimentei as sensações de quando descobri o início de tudo: enxaqueca forte, ânsia de vomito. O que tinha no email: ele saiu relembrando todos os encontros e viagens que tivemos. Detalhes que eu, que sempre tive melhor memória pra fatos e informações do que ele, já não lembrava e não poderia imaginar que ele lembrava. Mas lembrava. E estavam ali no email me torturando...E torturaram mais no fim quando ele reconheceu que machucou a pessoa que menos merecia da forma que menos merecia. E que me amava, só tinha demorado demais pra perceber isso. Na tortura final, disse que não encontraria outro alguém que o valorizasse tanto e que nunca me esqueceria.



Tortura, por que? Porque por muito tempo foi o que desejei ouvir. Foi o que desejei ler. E com o tempo fui percebendo que não ouviria enquanto eu queria. E que provavelmente só ouviria tempos depois, quando ele tivesse tido a certeza do fim ou tivesse sofrido um baque como o que sofri. E não é que as duas coisas aconteceram? E aí, veio o choro, o arrependimento e o reconhecimento. Mas e por que doeu? Porque acompanhada do reconhecimento veio a minha lembrança de quanto eu desejei ter isso por tanto tempo, inclusive quando estávamos juntos. Eu vivi de migalhas de atenção por algum tempo. Vivi de migalhas de sentimentos. Vivi de migalhas de demonstrações. E agora, sim, agora, que irônico, vem tudo que eu quis, a galope. E junto com ela, vem a certeza que eu já estava tendo e por isso tinha decidido não voltar e não deixar as bobas reaproximações acontecerem. Ele sempre percebia que me amava no fim de tudo. Quando me afastava. Mas quando junto, de novo sofria as mesmas coisas e me fazia sofrer. E dessa vez, não olhou pra mim e pro que eu sentiria caso eu descobrisse. Simplesmente se iludiu que eu não descobriria.  Acho mesmo que não se importou. Estratégia de bloqueio dele. Não sei como, mas hoje vejo o quanto ele me bloqueia. O quanto não consegue me amar e estar junto de mim. Insegurança? Talvez. Não sei ao certo, mas talvez seja melhor não saber. A verdade é que após as torturas todas, veio em mim o sentimento: quantas vezes mais ele vai precisar me perder pra começar a me dar valor enquanto me tem? Não quero contar. Não quero mais viver numa relação insegura assim. E não pela traição, mas pelo sentimento. Como saber se sou importante? Por migalhas? Satisfazer-me com migalhas? Lembro, mesmo antes de saber de tudo, o quanto eu ficava me questionando se ele de fato me amava, e me perguntava se eu não estava sendo dura demais porque ele tinha largado a cidade e tinha ido comigo pra outra...




Relembrar tudo isso relembra a decisão tomada. Relembra e machuca de novo: não importa o quanto ele ainda mexa comigo, e mexe. Não importa o quanto ainda doa e dói. Não importa o quanto ainda vá sofrer por isso. Não importa se ainda o amo (e amo? E o que é o amor? Minha vez de filosofar...). Não quero mais essa relação pra mim. A relação me trazia dúvidas e inseguranças. Era boa, no geral, mas tende a repetir o ciclo da insegurança e da dor. Sendo assim, escolhendo o caminho que escolhi, sei que a dor que sinto agora vai ter um fim ou pelo menos vai amenizar. E caso continue a relação, sei que terei ganhos momentâneos, mas novas dessas dores e torturas no decorrer dela...
Autocontrole. Querido, sabia que você era difícil, mas também não precisa ser nível top hard. Vamos lá! Com fé eu vou que a fé não costuma falhar! ;)
E, uma parte de uma música besta e antiga, mas que vai me representar agora...


“Nunca acreditei na ilusão de ter você pra mim
Me atormenta a previsão do nosso destino
Eu passando o dia a te esperar você sem me notar
Quando tudo tiver fim, você vai estar com uma cara
Uma alguém sem carinho, será sempre um espinho
dentro do meu coração”



E, a sensação que tenho é essa. Ele será sempre um espinho. Uma história dolorosa. Game over de uma relacionamento que lutei tanto e investi tanto. Mas é preciso saber enxergar quando até as histórias que mais bonitas e que mais sonhamos tem um fim e dão lugar a novos recomeços.



Recomeço, querido, você já pode chegar, ta? 13Beijosnoombro!


sábado, 18 de abril de 2015

Sobre a dor de um divórcio



Esses dias venho vivendo e revivendo a crise da separação e do divorcio. Ate parece que tinha me separado de novo e naquele dia. Mas não, era simplesmente a crise de assinar a %¨$# de um papel dizendo à sociedade que não tinha mais jeito. A sensação é a de um fracasso. É uma dor mais anestesiada, mas semelhante a da separação. Mas ao mesmo tempo, diferente. Logo após a separação, senti o fracasso, mas sentia uma dor maior, que era a dor da perda. Agora a dor da perda já se acalmou. Eu já não penso no que eu perdi. Sempre tento pensar no que ganhei após a separação. Tava num processo doloroso casada. E não notava tanto, porque tava do lado de dentro. Hoje, ganhando o mundo, vejo o quanto era desvalorizada por alguém que estava num processo de sofrimento e imaturidade que eu não conseguiria entender. Ele me desvalorizava na intenção de se valorizar, porque não gosta(va?) de si mesmo...
E ta, aí você pode me perguntar: vem cá, se tu ta se sentindo tão bem separada, adorando a sensação de se sentir desejada e paquerada (já deixei claro, ne, nos outros textos?), dançando, brincando, vivendo cada minuto como se fosse o último, como você vem me falar em dor? Difícil, acreditar, ne? Então, eu mesma, se não estivesse sentindo, diria que a pessoa tava querendo fazer drama onde não existe. Mas não, não é isso. O drama, apesar de não ser grande, quando se pensa racionalmente, existe. E vou explicar:
O divórcio se trata de afirmar perante a lei e a todos o seu descasamento. Mas e você já não fez isso? Não exatamente. Quando me separei, passei pelo meu processo intimo e até fiz rituais de separação. Joguei a aliança no lugar mais lindo que já visitei. Chorei escondida a dor em cada lugar que pensava que aquela viagem era pra ter acontecido com ele. Chorei a dor de uma perda de uma pessoa especial. De um sonho. Mas de um sonho meu. Só meu. Hoje, quando lembro, a sensação que tenho é a da música da Marisa Monte:
Se ela me deixou, a dor
É minha só, não é de mais ninguém.
Aos outros eu devolvo a dó
Eu tenho a minha dor.
Se ela preferiu ficar sozinha,
Ou já tem um outro bem
Se ela me deixou a dor é minha,
A dor é de quem tem.”


Pronto. A sensação era essa. A dor que era minha. Não queria dó de ninguém. Não era digna de dó. Sabia bem que o sofrimento ia passar. Até a dor de perder meu pai tinha amenizado com o tempo. Porque a dor de perder um marido não ia passar? Iria. Me enchi de coragem, passei a mão nos olhos e enfrentei a dor. Chorava, mas enfrentava. Vim sozinha pra cidade e pra casa onde tudo tinha acontecido. Mais decidida impossível, coloquei o que restava dele pra fora da casa e fui viver só. Entre farras e descobertas de uma vida solteira. Entre a dor de encontrá-lo ou encontrar a moça com quem ele estava/tinha passado um tempo/ sei lá. E nessas dores, fui esquecendo e vendo o quanto a minha vida ainda era especial e o quanto eu ainda tinha pra viver. E o quanto eu vinha descobrindo com a separação e a vida de solteira. E aí veio, por uma lado uma pressão social e por outro, uma pressão interna: a do divórcio. Passei pelo processo de negação: pera, eu preciso de um papel pra me dizer solteira? Não, claro que não. (só que sim, principalmente porque temos um bem juntos. E o que eu fosse fazer com esse bem precisaria dele. De uma vida que já não me dizia respeito e portanto poderia mudar e se tornar o que quisesse, inclusive, alguém disposto a me tomar bens materiais – vai saber?)
E então, com a história de vender ou não esse bem (o apartamento), resolvi-me a não vender, por diversos motivos e tratar de ressignificar tudo. Afinal de contas, eu fiz até a disciplina de psicologia ambiental, não foi? Não estudei e sei o quanto se pode ressignificar um ambiente e o quanto esse ambiente pode influenciar os sentimentos humanos? Pois bem, iria ressignificar tudo. E passei à história do divórcio, de resolver tudo perante a lei. E bom, se por um lado sabia e sei de todo um processo que se chama divórcio emocional (coisa de psi) e que isso doía, não sabia como era essa dor. Experimentei. A dor é a de ter fracassado. E agora a dor já não é mais só minha. Ela é minha, mas também é social. Há atores sociais envolvidos nisso. Há o ex-conjuge, agora mais ex que nunca. Há o advogado. Há uma procuração. Há um juiz. Há um papel. Há uma satisfação à sociedade. Há o contrário do orgulho de um dia ter entrado na Igreja e ter dito a Deus, à minha família e à sociedade, que a partir dali eu iria construir minha própria família. A partir dali eu seria mulher de um marido e futura mãe dos nossos filhos. Era como se eu tivesse passado mais ainda ao patamar de adulta (a impressão que tenho é que pulei um degrau quando me formei, outro quando comecei a trabalhar e assim sucessivamente). E agora a dor é o contrário desse orgulho: é afirmar pra sociedade que eu fracassei em construir uma família (Ah, mas não foi você, ele lhe traiu, ele não foi maduro, ele, ele, ele, ele...). Ta, se vocês conseguem fugir da própria responsabilidade assim, massa, mas talvez por ser psicóloga, pra mim não é tão fácil assim. Sei que em parte a culpa responsabilidade também é minha. Eu ate tentei, mas não soube lidar com uma traição tão pesada. Eu até tentei, mas não consegui fazer com ele viesse pra mim de novo como antes. Eu até tentei, mas no fim, não consegui nem me salvar nem salvar o que eu tinha prometido a mim mesma e a todos: uma família. A minha família.


Que se lasque a sociedade? Fácil dizer. Difícil é assinar e escrever: sim, sou divorciada. Não consegui viver como queria e como prometi. E estou bem com isso. Vrááááá. (tapas girando na sociedade machista, hipócrita e religiosa). E no fim, o que tenho a dizer? É difícil? É. Existem processos mais difíceis? Existem. Eu, ao menos, não tenho litígio e nem filhos. Mas a dor ta aqui. Doendo. Gritou dentro de mim na porta do advogado. [Piadas a parte: Gritou mais alto quando ele disse o preço e eu pensei (caramba, é pra desistir, é?)] Gritou mais alto quando falei no telefone com o ex. Gritou mais baixo quando falei com o segundo advogado. E foi diminuindo ao pensar no processo e juntar os documentos. E diminuiu mais quando falei pela segunda vez com o ex. E aí eu vi que era só mais uma etapa da minha dor. A dor escancarada a sociedade. E dói de novo, por que? Porque a gente mexe. E abre de novo. Abre de uma forma diferente. Mas abre. E com o tempo, ela volta a acalmar. Vá, dor, vá se acalmando. Um dia, você vira sorriso.
“Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chorar”.