Dias felizes, dias tristes... Vamos pra alguns
significativos.
Com o fim do são joão, de tantas farras, ficou Carlos de
romancinho. Mas esse romance já tinha começado a me incomodar. Por horas queria
ve-lo. Por outras, queria minha solteirice de volta. Não conseguia me apegar
completamente. Era estranho. E lembrei que com meu primeiro namorado foi
exatamente assim. Eu não conseguia ficar com ele o tempo todo e todo mundo
achava estranho. Era um exercício de apego. E com o tempo, com muito tempo
depois, consegui. Será que vou passar por esse exercício de novo? Bom, na
época, dei tempo ao tempo, mesmo sem querer. Que seja então. Até que chega o
dia 08. Passei o dia tentando sorrir, mas ainda lembrando. Há 04 anos eu
entrava na igreja, sorrindo, feliz, com musicas escolhidas por mim. Há 04 anos
eu entrava com sapatos vermelhos pra dizer a Deus, a minha família e a
sociedade que eu amava o Caio e que iria amá-lo por toda a vida e a partir
disso, construiria uma família. É, a família não deu certo. Por n motivos, mas
não deu. Acabou. Ficou a dor, agora mais calma, mas que ainda existe. E nesse
dia doeu um pouco. E foi assim:
No dia 07 a noite eu lembrei que dia era aquele. Cheguei em
casa, passei horas conversando com Samara e finalmente subi. Acho que estava
evitando chegar em casa, mas cheguei. Olhei pra cama, ensaiei um choro e parei.
Coloquei uma musica animada, dancei e lembrei de tanto eu tinha vivido até ali
e o quanto ainda precisava viver. A história precisa (va) ficar da “porta pra
fora”. Olhei minhas roupas bagunçadas ainda da ultima noite de festa e pensei:
O guarda roupa é só meu. O ap é só meu. Mãos a obra! E passei a arrumar a parte
od guarda roupa que ainda estava vazia, a espera de mim. Carlos chateado,
achando que ia me ver e ficar de casalzinho, com saudades porque tinha ido a
Recife. Expliquei que não tava no clima.
E que no outro dia provavelmente não estaria. Era um momento meu e eu
precisava vive-lo. Rezei e cansada dormi. Acordei, fui trabalhar, malhar e pro
salão. Passei um dia entre away e triste, tentando lutar contra as lembranças.
Quando saí do salão, lembrei com mais força e chorei. Chorei e gritei no carro
sozinha dirigindo. Um garoto que limpava vidros de carro me olhou no sinal e eu
tive vergonha de chorar, sendo que provavelmente não tinha sentido metade da
dor que ele tinha sentido. Mas continuei chorando, cheguei, troquei de roupa e
fui pro Centro Espirita com Samara. No carro ainda ensaiei um choro. E Samara
me acalmou dizendo tudo que eu já tinha feito e tudo o que ela tambem tinha
passado. Perguntou se eu não queria voltar pra Caio. Respondi que não. As
lágrimas já não eram por ele e nem talvez pelo casamento em si. Era por mim,
que tanto tinha feito e tinha ficado ali, sozinha, tentando ressignificar minha
vida. Fomos pro centro. Na palestra, o palestrante explicou que tudo que
passávamos era, de carta forma, uma escolha nossa antes de vir a esse mundo.
Brinquei, pensando que eu devia estar fora de si quando escolhi... Na hora da oração,
senti coisas parecidas com o que há algum tempo sentia.. “levanta-te”. Fui ao
atendimento fraterno. A moça sorriu e disse> “levanta-te e anda”. Falou um
pouco sobre a dor que ainda estava ali e me recomendou participar mais do
centro. Me senti melhor. Na saída vi Carlos. Falei rapidamente com ele e fui
pra casa. Já em casa, expliquei tudo o que tava sentindo e que era melhor me
manter afastada. Ele ficou chateado. Mas fiquei melhor com a situação. Só que
continuou insistindo e eu fui fraquejando. As vezes sentia falta e mandava
mensagens. Ele me deixou na rodoviária e fui dar aula em Serra talhada. Saí com
ele e Samara após a reunião do Centro da ultima quarta. Mas em Serra, fiquei
com outro rapaz. Na segunda, com outro em campina, simplesmente porque não quis
resistir ao tesão do momento. E nessa semana, fez um ano que a minha vida virou
de cabeça pra baixo. Dia 20 de Julho. O dia que achei a carta. A semana com uma
cabeça revirada, confusa. A semana que vim ao fortal chorando, e apesar de ter
amado tudo, voltei pra Campina desejando nunca mais vir a um Fortal e viver a
loucura que vivi. E, após um ano, aqui estou, com abada comprado, desejando
mais loucuras em minha vida... Ah, a experiência. Ah, o se deixar levar. Ah, o
se permitir. “mude e esteja pronto a mudar novamente”. Mudei. A vida me fez
mudar e eu acompanhei. Nesse sentido, é bom olhar pra trás e ver a vida que eu
soube re construir nesse ano.
A Sheila me relembra disso o tempo todo. Se por um lado,
Carlos me questionou para quando eu ia “continuar na tristeza” ou “continuar no
luto”, minha amiga, que me conhece bem melhor, olha pra mim e diz: amiga, você
foi incrível. Você não parou na vida. De fato. Lembro bem do dia que escrevi um
outro texto e enviei pro Caio...
Trecho: “Estou
na casa se uma amiga em Fortaleza. Ela é independente, solteira, bonita. Já
sofreu muito por e com ex-amores e hoje, como ela mesma diz, varia o cardápio
enquanto não encontra um que valha a pena. É exigente e suas qualidades lhe
permitem isso. Esse ambiente tem me feito pensar na possibilidade de que estou
tendo uma ocasião que me permita fazer o mesmo. Ser assim: bonita, jovem,
independente e solteira novamente. E bem provavelmente, exigente.”
Lembro
que pedi pro Caio comentar e ele simplesmente disse que “eu não tinha o perfil
da Sheila”, com um certo ar de crítica. Só que, mal sabe ele que somos
construídos pelas contingências. Eu nunca tive esse perfil porque sempre
namorei. Nunca havia estado solteira e independente. E aí me permiti descobrir
como seria. E sinceramente, apesar de ter doído, gostei de mim solteira. Gosto
do que aprendi a ser e de como penso. Se sou galinha? Não, apenas gosto de
viver sensações diferentes. E o faço sem machucar ninguém, sem enganar ninguém.
Um dia, talvez, ache alguém pra viver juntos. Mas se não achar, já sinto que
vou conseguir continuar construindo minha vida por aqui...
“É
bom olhar pra trás
E
admirar a vida que soubemos fazer
É
bom olhar pra frente
É
bom, nunca é igual
Olhar,
beijar e ouvir cantar um novo dia nascendo
É
bom e é tão diferente”
“Eu
não vou chorar
Você
não vai chorar
Ninguém
precisa chorar
Mas
eu só posso te dizer
Por
enquanto
Que
nessa linda história os diabos são anjos”
Sim... nessa história, os diabos são anjos. Caio e Larissa
não me fizeram mal. Me fizeram bem. Já pensou se eu continuasse a mesma? Que
chato, seria! Definitivamente, só tenho a agradecer pela oportunidade que me
foi dada! Nesse exato momento, tenho orgulho de mim! A vida me deu um limão. Aí
eu juntei cachaça e açúcar e fiz uma caipirinha. =]