“ Um menino me ensinou quase tudo que eu sei. Era quase
escravidão e eu nem era tratada como rainha. Eu fazia muitos planos e eu e ele
so queríamos estar ali (...) eu não tinha aonde ir. Talvez egoísta como ele é,
tenha esquecido de ajudar a mim como eu o ajudei. Ele também estava perdido e
por isso se agarrou/se agarra a mim e a esperança de me ter de volta também. E
dizia ainda é cedo...”
Hoje uma entidade me assustou e
me fez pensar em tudo de novo, mas em tudo de uma forma boa, ou ao menos,
saudável. No centro espírita, na consulta mediúnica, uma entidade falou em tom
de ameaça: “você não vai ficar nem com um, nem com dois nem com ninguém, duvido
você parar com alguém”. E falou que meu ex não me perdoava porque eu o tinha
deixado. E que havia uma moça com ele, que também não me perdoava por isso. Me
assustei e chorei. Disse que estava me apegando a alguém, mas que não sabia
como proceder, que tinha medo. Ela falou que eu tinha que perdoar e rezar pelo
ex e pela menina e que só então eu conseguiria seguir adiante de forma
definitiva. Ela disse que o tempo ia me mostrar que a pessoa com quem eu estava
era uma pessoa boa, que tinha valores. Voltei pra casa em mil pensamentos e ao
começar a contar pra uma amiga me dei conta do verdadeiro mal que tinha feito a
Larissa. Não foi só ir falar com ela no INSS e xingá-la, mas pressionar por uma
demissão. E no fim, saber que só após a demissão caio havia se separado dela,
porque ela ficou com raiva. O maior escroto dessa história toda foi ele, com
certeza, que continuou com seu emprego, sendo chefe, a menina foi demitida e eu
sai arrasada e machucada de tudo. Ele errou? Sim, errou. Quebrou uma confiança
e me mostrou que eu não devia permanecer naquela relação e aceitar tudo aquilo,
que uma família naquelas bases não daria certo. Não deu. Hoje tenho certeza
disso. E acho até que era preciso que tudo isso acontecesse para que nós dois amadurecêssemos,
quem sabe. Bom, mas até agora, estou aqui vomitando mágoas de novo.
Caio errou?
Errou. Errou feio, machucando alguém que não merecia. Mas no final das contas,
quem não erra? Erramos e enganamos a todo momento pessoas que não merecem
porque estamos preocupados com a nossa felicidade e com o nosso bem estar,
somente com ele. Somos egoístas. Ele foi só escroto? Não, foi um bom
companheiro durante anos. Foi quem me apresentou ao sexo. Foi quem me
possibilitou algumas noites de farra. Foi quem construiu alguma confiança com
minha mãe. Foi quem me apresentou jeri. Foi quem me apresentou Canoa quebrada,
Foi com quem descobri pirenopolis, foi com quem descobri o amor, e tantos
outros sentimentos e lugares.
Caio, é uma pena que nosso egoísmo (nosso, eu
também errei nessa relação, apesar de ter feito tudo o que estava ao meu
alcance para consertá-la) tenha culminado no fim de uma relação que eu tinha
como leve e bonita. É verdade que você me maltratou e me fez me detestar por
algum tempo. É verdade que você me torturava e me deixava insegura. Mas
acredito sinceramente que você o fez de modo inconsciente, provavelmente por
não conseguir lidar com a mulher que estava me tornando. Você não soube pedir
ajuda. E eu não soube parar na hora certa. E a relação foi se extinguindo, a
admiração também. Até que culminou em tudo que aconteceu. E hoje te peço perdão
pelo mal que te desejei tanto tempo. Não, Caio, você não merece sofrer. Você,
por tudo que você me fez antes de me maltratar, você merece ser feliz. Você
merece se encontrar. Você não consegue se perdoar pelo que fez, mas se perdoe.
Eramos imaturos. Aconteceu. Você perdeu uma mulher maravilhosa, é verdade, mas
será que não é perdendo algumas coisas que se tenta lutar por outras? Sim,
sinceramente, lhe desejo o perdão. Que nós nos perdoemos. E que tudo fique em
paz. Você merece ser feliz. E eu torço por isso. Secretamente, por ora. Não
quero ouvir conselhos bobos ou afirmações de que sou besta ou boba. Talvez eu
seja. Mas quer saber? Gosto de ser assim.

Larissa, hoje, talvez só hoje
tenha me dado conta do que fiz a você. Me perdoe. Hoje sei que não há nada que
eu possa fazer pra reparar meu erro. Hoje percebo: sou discurso. Tenho discurso,
mas na primeira oportunidade e no primeiro teste de fogo da vida, falhei e
muito com você, moça de 16 anos que cresceu e foi ensinada a seduzir um homem.
Moça, me perdoe. Vinha de outra realidade, a realidade da mulher branca, cis e
HT, riquinha e privilegiada, que foi afogar as magoas no Chile e nos EUA. E la
dessa realidade, cruelmente, me senti no direito de lhe humilhar lhe chamando
de rapariga, simplesmente porque você e meu marido na época estavam apaixonados
e você decidiu fazer o que as novelas ensinam: arriscar tudo por amor. Mas, a
moça cis, branca e HT, que se diz feminista, ainda foi capaz de algo mais
cruel: pedir sua demissão. Eh verdade que hesitei, mas é verdade também que
fiquei feliz que você tenha saído. Quis que você “pagasse”, quis que você “aprendesse”
e esqueci por completo da sociedade em que estamos. Você foi mal falada no seu
trabalho. Você saiu do trabalho com cochichos. Você saiu difamada. Eu mesma
ouvi de uma guarda: “ela é conhecida”. Poxa, moça, isso deve ter doído. Por
mais que você tenha errado, não era assim que as coisas deviam acontecer. O
mais errado foi ele. Ele deveria pagar pelo que fez. E como foi que pagou? Continuou
sendo chefe. Por mais que tenha recebido críticas, provavelmente nenhuma delas
foi tão pesada como a sua, mas, veja que ironia: ele tinha um compromisso e um
dever ético. Você tinha 16 anos. E eu contribui com isso. Hoje, talvez so hoje
eu tenha percebido. Moça, do fundo do meu coração, me perdoe. E não por ter lhe
chamado de rapariga. Isso foi o mínimo. Mas por ter tirado de uma moça pobre o
direito de concluir um estágio que lhe era um sustento de vida enquanto você concluía
o ensino médio, enquanto muitas nem concluem. Espero que o Caio consiga refazer
parte do que eu fiz. E não, você não precisa me pedir perdão pelo que fez.
Passou, de verdade. Siga. Siga em paz, seja feliz e que Deus lhe abençoe. E me
perdoe por depois ainda ter ficado de alguma forma em seu caminho. Se não for o
caio, que você encontre outro homem, ou um emprego e faça uma boa viagem com
amigas. Siga, siga em frente, perdoemo-nos.

Sobre confiar de novo. É, é
difícil confiar depois dessas histórias todas na vida de alguém. O alerta ta
ligado, mas ao mesmo tempo que ta ligado, também ta ligado o jogar expectativas
de felicidade e relacionamento em outra pessoa. Esses dias, ao mesmo tempo que
me aproximo de Bruno, percebo o quanto estou insegura com tudo isso. E o quanto
venho jogando coisas pra ele lidar. Ele não precisa lidar com nada disso. Eu
preciso. E, se foi Deus quem me colocou na vida dele, foi Deus quem o colocou e
quem está me vendo perceber mais uma vez, mais do que nunca. O problema do meu
relacionamento não foi só caio. EU joguei expectativas em Caio e ele não soube
lidar com isso. E não posso fazer isso com você simplesmente por estar carente
e só em uma cidade. Há tanta coisa a se fazer só. Estar com você é só mais uma
delas. Você tem uma vida, arianinho. Siga. Podemos seguir juntos por um tempo,
quem sabe, mas claramente seus caminhos são outros. Serão ser juiz federal em
algum outro estado longe de mim. E eu, eu espero ser a psicóloga do tribunal
com quem você dividiu bons momentos.
