segunda-feira, 16 de maio de 2016

“ Um menino me ensinou quase tudo que eu sei. Era quase escravidão e eu nem era tratada como rainha. Eu fazia muitos planos e eu e ele so queríamos estar ali (...) eu não tinha aonde ir. Talvez egoísta como ele é, tenha esquecido de ajudar a mim como eu o ajudei. Ele também estava perdido e por isso se agarrou/se agarra a mim e a esperança de me ter de volta também. E dizia ainda é cedo...”








Hoje uma entidade me assustou e me fez pensar em tudo de novo, mas em tudo de uma forma boa, ou ao menos, saudável. No centro espírita, na consulta mediúnica, uma entidade falou em tom de ameaça: “você não vai ficar nem com um, nem com dois nem com ninguém, duvido você parar com alguém”. E falou que meu ex não me perdoava porque eu o tinha deixado. E que havia uma moça com ele, que também não me perdoava por isso. Me assustei e chorei. Disse que estava me apegando a alguém, mas que não sabia como proceder, que tinha medo. Ela falou que eu tinha que perdoar e rezar pelo ex e pela menina e que só então eu conseguiria seguir adiante de forma definitiva. Ela disse que o tempo ia me mostrar que a pessoa com quem eu estava era uma pessoa boa, que tinha valores. Voltei pra casa em mil pensamentos e ao começar a contar pra uma amiga me dei conta do verdadeiro mal que tinha feito a Larissa. Não foi só ir falar com ela no INSS e xingá-la, mas pressionar por uma demissão. E no fim, saber que só após a demissão caio havia se separado dela, porque ela ficou com raiva. O maior escroto dessa história toda foi ele, com certeza, que continuou com seu emprego, sendo chefe, a menina foi demitida e eu sai arrasada e machucada de tudo. Ele errou? Sim, errou. Quebrou uma confiança e me mostrou que eu não devia permanecer naquela relação e aceitar tudo aquilo, que uma família naquelas bases não daria certo. Não deu. Hoje tenho certeza disso. E acho até que era preciso que tudo isso acontecesse para que nós dois amadurecêssemos, quem sabe. Bom, mas até agora, estou aqui vomitando mágoas de novo. 

Caio errou? Errou. Errou feio, machucando alguém que não merecia. Mas no final das contas, quem não erra? Erramos e enganamos a todo momento pessoas que não merecem porque estamos preocupados com a nossa felicidade e com o nosso bem estar, somente com ele. Somos egoístas. Ele foi só escroto? Não, foi um bom companheiro durante anos. Foi quem me apresentou ao sexo. Foi quem me possibilitou algumas noites de farra. Foi quem construiu alguma confiança com minha mãe. Foi quem me apresentou jeri. Foi quem me apresentou Canoa quebrada, Foi com quem descobri pirenopolis, foi com quem descobri o amor, e tantos outros sentimentos e lugares.




 Caio, é uma pena que nosso egoísmo (nosso, eu também errei nessa relação, apesar de ter feito tudo o que estava ao meu alcance para consertá-la) tenha culminado no fim de uma relação que eu tinha como leve e bonita. É verdade que você me maltratou e me fez me detestar por algum tempo. É verdade que você me torturava e me deixava insegura. Mas acredito sinceramente que você o fez de modo inconsciente, provavelmente por não conseguir lidar com a mulher que estava me tornando. Você não soube pedir ajuda. E eu não soube parar na hora certa. E a relação foi se extinguindo, a admiração também. Até que culminou em tudo que aconteceu. E hoje te peço perdão pelo mal que te desejei tanto tempo. Não, Caio, você não merece sofrer. Você, por tudo que você me fez antes de me maltratar, você merece ser feliz. Você merece se encontrar. Você não consegue se perdoar pelo que fez, mas se perdoe. Eramos imaturos. Aconteceu. Você perdeu uma mulher maravilhosa, é verdade, mas será que não é perdendo algumas coisas que se tenta lutar por outras? Sim, sinceramente, lhe desejo o perdão. Que nós nos perdoemos. E que tudo fique em paz. Você merece ser feliz. E eu torço por isso. Secretamente, por ora. Não quero ouvir conselhos bobos ou afirmações de que sou besta ou boba. Talvez eu seja. Mas quer saber? Gosto de ser assim.



Larissa, hoje, talvez só hoje tenha me dado conta do que fiz a você. Me perdoe. Hoje sei que não há nada que eu possa fazer pra reparar meu erro. Hoje percebo: sou discurso. Tenho discurso, mas na primeira oportunidade e no primeiro teste de fogo da vida, falhei e muito com você, moça de 16 anos que cresceu e foi ensinada a seduzir um homem. Moça, me perdoe. Vinha de outra realidade, a realidade da mulher branca, cis e HT, riquinha e privilegiada, que foi afogar as magoas no Chile e nos EUA. E la dessa realidade, cruelmente, me senti no direito de lhe humilhar lhe chamando de rapariga, simplesmente porque você e meu marido na época estavam apaixonados e você decidiu fazer o que as novelas ensinam: arriscar tudo por amor. Mas, a moça cis, branca e HT, que se diz feminista, ainda foi capaz de algo mais cruel: pedir sua demissão. Eh verdade que hesitei, mas é verdade também que fiquei feliz que você tenha saído. Quis que você “pagasse”, quis que você “aprendesse” e esqueci por completo da sociedade em que estamos. Você foi mal falada no seu trabalho. Você saiu do trabalho com cochichos. Você saiu difamada. Eu mesma ouvi de uma guarda: “ela é conhecida”. Poxa, moça, isso deve ter doído. Por mais que você tenha errado, não era assim que as coisas deviam acontecer. O mais errado foi ele. Ele deveria pagar pelo que fez. E como foi que pagou? Continuou sendo chefe. Por mais que tenha recebido críticas, provavelmente nenhuma delas foi tão pesada como a sua, mas, veja que ironia: ele tinha um compromisso e um dever ético. Você tinha 16 anos. E eu contribui com isso. Hoje, talvez so hoje eu tenha percebido. Moça, do fundo do meu coração, me perdoe. E não por ter lhe chamado de rapariga. Isso foi o mínimo. Mas por ter tirado de uma moça pobre o direito de concluir um estágio que lhe era um sustento de vida enquanto você concluía o ensino médio, enquanto muitas nem concluem. Espero que o Caio consiga refazer parte do que eu fiz. E não, você não precisa me pedir perdão pelo que fez. Passou, de verdade. Siga. Siga em paz, seja feliz e que Deus lhe abençoe. E me perdoe por depois ainda ter ficado de alguma forma em seu caminho. Se não for o caio, que você encontre outro homem, ou um emprego e faça uma boa viagem com amigas. Siga, siga em frente, perdoemo-nos.




                       

Sobre confiar de novo. É, é difícil confiar depois dessas histórias todas na vida de alguém. O alerta ta ligado, mas ao mesmo tempo que ta ligado, também ta ligado o jogar expectativas de felicidade e relacionamento em outra pessoa. Esses dias, ao mesmo tempo que me aproximo de Bruno, percebo o quanto estou insegura com tudo isso. E o quanto venho jogando coisas pra ele lidar. Ele não precisa lidar com nada disso. Eu preciso. E, se foi Deus quem me colocou na vida dele, foi Deus quem o colocou e quem está me vendo perceber mais uma vez, mais do que nunca. O problema do meu relacionamento não foi só caio. EU joguei expectativas em Caio e ele não soube lidar com isso. E não posso fazer isso com você simplesmente por estar carente e só em uma cidade. Há tanta coisa a se fazer só. Estar com você é só mais uma delas. Você tem uma vida, arianinho. Siga. Podemos seguir juntos por um tempo, quem sabe, mas claramente seus caminhos são outros. Serão ser juiz federal em algum outro estado longe de mim. E eu, eu espero ser a psicóloga do tribunal com quem você dividiu bons momentos.


 Porque você e meu momento é isso: reconstrução. O coração não é o mesmo. Nunca mais será. Uma vez partido, não cola. Não como era, mas mais bonito: como um mosaico. 

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